Description
Bolinha e Pintado ouviam aquele diálogo, mas era como se vozes muito distantes murmurassem palavras que eles não compreendiam. Naquele instante apenas a dor era uma realidade. Pintado gemia, tomado de tristeza. Bolinha chorava.
Zé Geraldo encostou o caminhão bem próximo e desceu com a toalha molhada, com a qual envolveu a traseira do cão, tentou retirá-lo do solo sem causar-lhe maiores traumas. Clarice já se ajeitara no largo banco e Elvira atravessou o Pintado no colo, com a cabeça debruçada entre ela e a porta. O animal olhava tristemente para a companheira, ainda aturdido, percebendo o desespero que enchia de lágrimas os olhos de Bolinha. Ela latiu, inutilmente, implorando ao caminhoneiro que a levasse junto, mas ele não entendeu a sua linguagem…
A porta se fechou. O caminhão rasgou a rodovia e mergulhou no silêncio. Bolinha imaginou segui-lo pela estrada, mas sentiu-se tristemente incapaz de vencer a distância e aquela velocidade. Estendeu-se sobre as patas e ali ficou, tomada de profunda melancolia que sacudia o seu pequeno coração.