Sergio Saraiva

Com sua alma paulistana e seu amor pelas mulheres e pelos cachorros, Sergio Saraiva nos traz neste livro poesias carregadas de sentimentos e vivências que nos levam à mais íntima das experiências com nossas próprias angústias e reflexões. Com referências riquíssimas e pontos de vista únicos, esta coletânea de poesias te fará navegar pelo profundo e atracar na sensação de que são velhos amigos em uma São Paulo que ainda resiste em alguns cantos. São Paulo é, sem dúvida, o pano de fundo, a aldeia do poeta, mas há neste livro igualmente o encontro com o interior de quem devaneia sobre os acontecimentos da aldeia. Essa aldeia é o próprio poeta. Poderia ser diferente? Poderiam ser poemas épicos, mas não são. Não se canta aqui uma revolução que não ocorreu senão no coração do poeta. Mesmo algumas homenagens que aparecem em um ou outro poema são singelas. Citações há muitas, lugares e pessoas – outros poetas... os mestres do poeta acidental que escreve este livro – como ele próprio se define. Esta coletânea, ainda que mal comparando, tem algo dos ensinamentos de Tolstói ou de Pessoa: justamente o cantar o particular, o introspectivo sendo repartido, o deixar correr o rio da aldeia. E assim vai fruindo pelo livro, encontrando aqui uma passagem leve como “xixi de nuvem”, ali ironias várias e reflexões ensimesmadas como versos de uma canção de Belchior: “Eu pergunto ao passarinho o que se faz? Assum preto me responde: tudo já ficou para trás”. E por certo, o poeta não ouve o que lhe aconselha o passarinho, e segue costurando seus poemas de recordações sem respostas. Há ainda a série de poemas intitulados “Associações Indevidas”, onde uma palavra puxa a seguinte e assim puxa outra em um interessante caráter circular, em que o poema termina na mesma palavra com que começou. Ainda que inusitada, há nesses poemas uma clara coerência com os poemas reflexivos das tais recordações sem respostas. Por fim, esta coletânea de poemas trará o prazer de uma conversa de praça com alguém encontrado pelo acaso de estarmos ambos no mesmo lugar, mas que parece falar de coisas que compartilhamos há muito tempo.