Description
Apesar das agruras da pandemia, evocada qual mote, a vida não fora contexto para este Caderno poético. Fora talvez pre-texto pra arte, manha. Um chamado a se despir. E a naturalidade com que se despe revela nossa fragilidade moral para enxergar as próprias vergonhas desnudas. Sua língua desenvolta lambe palavrosa a fenda ferida. Fera radical, fareja e dilacera na origem a promessa da semente. Na pele virgem de amor, quem poderá macerar seus espinhos? Do desamparo esgueira uma fé menina, tenra, jovial e triste. A moenda do tempo esconde os seus desígnios. Por outra, uma fé menina não tem medo nem juízo. Escapa viçosa, a pouco e pouco, para vez mais enternecer aquela fera, amiga das horas, prima-irmã do Tempo. Existe em estado de aranha, não se deixa ver nítida. Ora se mostra, ora se esconde. Desliza vulnerável em um véu de teias. Conquista e devora. No grão da palavra soa gostosa e a gente se entrega ao mastro. E chama por Nana, e mergulha sem hesitar no profundo leito do silêncio onde tudo repousa sabido. Caderno poético, corpo enraizado no Mistério, semeadura de morte e vida. E tanta vida.